Empresa pré-operacional foi criada por ex-executivo da B3 e espera iniciar oferta de produtos no começo de 2020
Por Graziella Valenti
A Nobli, fintech de crédito pessoal que fará operações garantidas pela carteira de investimento do tomador dos empréstimos, ainda não tem resultados. Tem projeto, sócios fundadores experientes, solução testada no laboratório de inovação do Banco Central e produtos no forno. E agora, tem também um sócio que é uma vitrine. A startup pré-operacional acaba de ser eleita para receber um aporte de valor não revelado da gestora Redpoint eventures, a primeira a reunir fundos do Vale do Silício para uma carteira dedicada ao Brasil.
Regio Martins ainda era executivo de produtos da B3 quando inscreveu seu projeto no Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (Lift), do BC. Ali, ele decidiu testar a ideia de fornecer crédito de curto e médio prazo para pessoas físicas, usando como garantia as aplicações financeiras e tecnologia blockchain.
No começo deste ano, depois de passar pelo Lift, ele se uniu a três outros executivos de mercado e fundou a Nobli, para transformar em negócio o mercado potencial que descobriu. A ideia é que os serviços de créditos sejam ofertados por corretoras parceiras a partir do primeiro trimestre de 2020. “As corretoras, propriamente, não podem fornecer a ponta de crédito. Vamos conseguir colocar esse serviço para eles oferecerem”, explicou Martins ao Valor.
O objetivo, segundo ele, é atender necessidades de oportunidade de clientes que tem patrimônio investido mas não tem liquidez imediata ou que querem manter suas carteiras. Assim, a pessoa trava uma parte de seus investimentos com a Nobli e consegue acessar recursos imediatos a custo competitivo. A expectativa de Martins é trabalhar com volumes entre R$ 50 mil e R$ 100 mil por usuário.
O executivo explicou que há pouco tempo todo esse mecanismo era impossível. Apesar de existir a modalidade de crédito com garantia, havia uma enorme burocracia associada com papéis e registros em cartórios. Desde o ano passado, porém, existe a possibilidade de cadastrar esses contratos eletronicamente, na própria B3 ou na Cerc (Central de Recebíveis).
Agora, mesmo com esse formato disponível, os bancos ainda só fornecem crédito com base no investimento que o cliente tem dentro da própria instituição. “Nossa taxa será sempre menor que a do banco, mas é difícil prever de antemão uma média ou intervalo, pois queremos fornecer os recursos com análise caso a caso”, explicou.
O Redpoint eventures, que ganhou notoriedade por ter três unicórnios investidos (Gympass, Rappi e Creditas), viu na Nobli a chance de explorar um mercado que espera florescer no Brasil, em especial, diante do novo cenário da taxa de juros. “Eles vieram aqui, na verdade, nos pedir conselhos. Mas gostamos tanto do projeto que decidimos já investir”, contou Anderson Thees, sócio da gestora de venture capital. Na avaliação do executivo, o produto tem potencial e, mesmo dedicado ao crédito pessoal, risco baixo associado, por trabalhar com as aplicações financeiras como garantias.
“A mudança de ambiente permitirá ao brasileiro tratar crédito como planejamento financeiro e não mais dívida”, disse Martins.
A Redpoint iniciou um segundo fundo no ano passado, que ainda está aberto e não conclui a rodada de investimentos. O primeiro, de US$ 130 milhões e iniciado em 2012, é onde estão os unicórnios.